
TOPOGRAFIA
DOS ENCONTROS
FICHA TÉCNICA
ARTISTAS
zarro
CURADORIA
Anelise De Carli
TEXTO CURATORIAL
Entre os gestos vivazes de um artista vibrante como zarro, há um gesto de cuidado. Seus trabalhos cuidam das imagens que insistem, dos fragmentos que sobrevivem, do passado que não passou bem. Em sua primeira exposição individual, apresenta-se um conjunto de obras desenvolvidas ao longo do último ano, em parte durante sua residência no Programa de
Concessão de Ateliê do Remanso - Instituto Cultural e, posteriormente, em continuidade nos espaços da Associação de Pesquisas e Práticas em Humanidades (APPH). Recentemente agraciada com o Prêmio de Aquisição do Salão de Artes Visuais da Câmara Municipal de Porto Alegre, zarro tem cultivado sua poética através da articulação de diferentes linguagens – pintura, colagem e coleta –, propondo formas de percepção e reelaboração de memórias históricas, traumas políticos e práticas de convivência.
Em Topografia dos encontros, os trabalhos elaboram composições do comum. A mostra se organiza em três núcleos, cada um tocando aquilo que, embora pareça distante, ainda pulsa: imagens que voltam, espaços que abrem, corpos que reaparecem.
O primeiro núcleo parte de uma pesquisa em arquivos: fotografias de imprensa do período ditatorial brasileiro; e o inesperado arquivo de vestígios encontrado pela artista na orla do Guaíba, em Porto Alegre, documentando os resquícios das antigas habitações ribeirinhas, quer sejam de uma margem ou outra do rio. zarro reapresenta essas imagens como quem quer reaprender a vê-las: por meio do recorte, da montagem, da pintura e da colagem, desestabilizando as narrativas oficiais e revelando o que ficou fora de quadro, assim dando corpo ao que o enquadramento original quis apagar.
Adentrando no segundo núcleo, encontramos telas da série Ebó de bar, onde a artista recria um espaço democrático de elaboração coletiva.
Tomando o bar como lugar de reencontro popular, onde se compartilha dor e alegria, zarro nos oferece cenas que carregam uma trilha sonora própria e estão povoadas de promessas: cadeiras e camadas potenciais de pessoas em campos de cor vibrantes, à espera de alguém ou de algo – um corpo, uma conversa, um gesto de cura. O bar, aqui, é rito e abrigo. É oferenda cotidiana e lugar possível de reparação.
No terceiro e último núcleo, a série Multidões apresenta os trabalhos mais recentes da artista, onde imagens quase abstratas dão corpo a grupos de pessoas reunidas em cenas de festas, celebrações e manifestações. Pintar a multidão é uma afirmação da potência do estar junto: da vibração dos corpos e da força do coletivo. As obras capturam não só a forma, mas a energia do calor dos encontros – aquilo que escapa à imagem e, ainda assim, permanece nela.
Entre reapropriações, rituais e comunhões, a exposição constroi um caminho que é também um retorno – não ao passado em busca de nostalgia, mas a ele como matéria viva que pode, pela arte, ganhar outras formas, outros nomes, outros futuros.
Anelise De Carli
REALIZAÇÃO
Remanso - Instituto Cultural
Ministério da Cultura | Governo Federal do Brasil
APOIO
APPH
Café Musa Velutina
Cabocla Cervejas Artesanais
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Livre

SOBRE A ARTISTA
zarro (1987, Viamão) é uma artista afro-latino-americana que atualmente estuda e trabalha em Porto Alegre (RS).
Dedicada principalmente à pintura, à colagem e à coleta, em sua poética se evidencia uma tendência à repetição que opera como estratégia de elaboração sensível e de engajamento visual.
Mestranda no Programa de Pós-graduação em Poéticas Visuais do Instituto de Artes da UFRGS, é Bacharel em Artes Visuais (2022) e licenciada em Ciências Biológicas (2011) pela mesma instituição. Atuou como professora junto à rede pública de educação no ensino fundamental e médio.
O início da pandemia marcou um período de reclusão e inflexão em sua trajetória artística, impulsionando uma produção intensa, guiada por uma imaginação fértil e por um desejo de experimentação. Ao mobilizar camadas de memória e presença que emergem da experiência coletiva, seus trabalhos convocam o espectador a uma contemplação ativa, numa escuta sensível às nuances e idiossincrasias que ali se revelam e insistem em aparecer nos interstícias da percepção.
LISTA DE OBRAS
Núcleo 1 | Presenças
zarro (Viamão, RS, 1987). Azulejos de leito de rio, 2025 (série Coisário do Rio, 2022 - atual). Coleção de azulejos e tijolos coletados às margens do Guaíba. Dimensões diversas. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). Tijolos cai-caiados, 2025 (série Coisário do Rio, 2022 - atual). Coleção de azulejos e tijolos coletados às margens do Guaíba. Dimensões diversas. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). Mandava ladrilhar, 2025 (série Coisário do Rio, 2022 - atual). Coleção de azulejos e tijolos coletados às margens do Guaíba. Dimensões diversas. Acervo da artista.
Tijolos cai-caiados
zarro (Viamão, RS, 1987). Colméia de terracota, 2025 (série Coisário do Rio, 2022 - atual). Coleção de azulejos e tijolos coletados às margens do Guaíba. Dimensões diversas. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). O ditador [díptico] (série Presença), 2024. Acrílica sobre tela. 64 x 60 cm cada uma. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). Depoentes do passado, 2025. Técnica mista. 78 x 63 cm / 96 x 66 cm. Acervo da artista
zarro (Viamão, RS, 1987). Moral e Cívica, 2024. Técnica mista, 105 x 60 cm (sem moldura). Acervo da artista
Núcleo 2 | Ebó de bar
zarro (Viamão, RS, 1987). São Jorge, defenda-nos (série Ebó de Bar), 2024. Acrílica sobre tela. 101 x 85 cm. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). 20 cadeiras vermelhas e 1 preta (série Ebó de Bar), 2024. Acrílica e guache sobre tela. 157 x 85 cm. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). St. Expedito (série Ebó de Bar), 2024. Acrílica sobre tela. 104 x 81 cm. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). Cusco sob cadeira (série Ebó de Bar), 2024. Acrílica sobre tela. 79 x 54 cm. Acervo Virginia Di Lauro.
zarro (Viamão, RS, 1987). Altar de Santo, 2025. Imagem de São Jorge sobre pedestal. 20 x 28 cm. Acervo da artista.
Núcleo 3 | Multidões
zarro (Viamão, RS, 1987). Nem todos aplaudem de pé (série Multidões), 2025. Acrílica e carvão sobre tela. 76 x 52 cm. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). Pacato (série Multidões), 2025. Acrílica e giz sobre tela. 84 x 52 cm. Acervo da APPH.
zarro (Viamão, RS, 1987). A área VIP Sucumbiu (série Multidões), 2025. Acrílica sobre tela. 84 x 52 cm. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). Sem título (série Multidões), 2025. Acrílica sobre tela. 100 x 83 cm. Acervo da artista.
zarro (Viamão, RS, 1987). Vagabundo não é mole, 2025. Acrílica sobre tela. 100 x 74 cm. Acervo da artista.
PROGRAMA PÚBLICO
EM CONSTRUÇÃO...

